O amendoim é realmente uma arma secreta? O amendoim é tão eficiente assim quanto dizem? Por que o amendoim é tão eficiente? Não são poucos os Columbófilos que se fazem estas e outras perguntas sobre o real poder do amendoim. Eu mesmo não conseguia entender como esta semente poderia fazer tanta diferença! Quais seriam seus segredos? Isso é o que vamos começar a descobrir aqui!
Existem alguns contras, com relação à sua utilização, é verdade! Mas que são perfeitamente controláveis, como pudemos verificar no artigo “O Poder do Amendoim”. Então vamos começar a ver neste artigo, que benefícios esta semente pode trazer ao ser adicionada na dieta dos nossos atletas.
Muito bem, vamos pensar em uma prova de 800 Km, em que os pombos serão soltos em um sábado às 7:00 horas da manhã.
Normalmente o embarque para uma prova, desta distância, é feito na quinta-feira à noite e para que tudo funcione corretamente, os pombos devem ser alimentados no máximo até as 11:00 horas da manhã daquela quinta-feira.
Em condições normais eles conseguem cumprir este percurso com 10 horas de voo, e transcorrendo tudo bem no embarque, no transporte e durante a solta, os pombos estariam retornando ao seu pombal às 17:00 horas do sábado.
Vamos considerar aqui como dia, apenas o período entre o nascer e o pôr do sol, que é o período ativo dos pombos, onde eles comem, bebem e voam, já que durante à noite, o normal é que estejam recolhidos em repouso. Sendo assim, contamos três dias, quinta, sexta e sábado, entre a última refeição (ainda no pombal) e o seu retorno da prova. Então os pombos precisarão de alimento suficiente que os sustentem durante este período para que consigam retornar correto?
Neste caso, alguém poderia dizer que deixaria para alimentar seus pombos na quinta-feira, o mais tarde possível, logo antes de leva-los para o embarque, mas não pode! Se se você deixar para alimentá-los depois das 11:00 horas da manhã do dia do embarque, permitindo que eles comam o quanto quiserem, certamente vomitarão a comida no caminhão assim que ele sair, isso se não vomitarem ainda no transporte até o embarque. Por isso o ideal é que: a última refeição no pombal, seja oferecida ainda na parte da manhã, do dia do embarque, e seja suficiente para suprir as energias dos nossos atletas por pelo menos três dias, para que ele não dependa de ser alimentado no transporte.
Pois então, vamos analisar aquela composição de ração básica do tipo sport que falei no artigo “O Poder do Amendoim” que continha 35% milho, 30% ervilha, 20% trigo, 10% sorgo,3% castanha e 3% cártamo.
Um pombo que comesse à vontade, e estivesse com um papo completamente cheio desta ração, teria nutrientes suficientes para suprir suas necessidades por até dois dias, sem precisar se alimentar novamente, precisando apenas de água para equilibrar o metabolismo. Esta ração seria suficiente então, para garantir a quantidade necessária de nutrientes para o pombo somente até a sexta-feira, terminando antes que ele conseguisse retornar às 17 h da tarde de sábado.
Tudo bem, você poderia dizer que se os pombos forem alimentados durante o transporte, antes de serem soltos, não haveria problemas, mas quem poderia garantir que seu pombo se alimentaria normalmente no caminhão, durante o percurso?
De qualquer forma, o que estou querendo mostrar aqui é que muitas etapas, que fogem ao nosso controle, podem não acontecer do jeito que esperamos, ou planejamos, durante estes três dias, e todo o trabalho de meses, garantindo um ótimo processo de muda, o ótimo trabalho de recuperação, com as rações depurativas e reidratações nas chegadas, podem ir por água abaixo.
É aqui que entra o amendoim. Então, comparando o potencial em calorias do amendoim, que chega a ser o dobro de outras sementes, poderíamos pensar que um pombo com um papo completamente cheio de amendoim, seria capaz de suportar quatro dias sem precisar se alimentar novamente, e assim os nossos problemas estariam resolvidos não é mesmo? Mas calma… não é bem assim que a coisa funciona, mesmo que o papo do pombo tivesse só amendoim, ele poderia enfrentar a falta de outros nutrientes, necessários ao bom funcionamento do seu organismo, que não encontramos no amendoim, além disso, o metabolismo das aves é muito acelerado, por conta disso todo o amendoim consumido pelo pombo, poderia ser processado e eliminado pela cloaca, antes de se completar o terceiro dia e nem todos os nutrientes teriam sido absorvidos.
Mesmo assim, só isso em si, já seria uma grande vantagem, pois o mesmo volume de alimento seria capaz de suprir a energia para o pombo por quase um dia a mais, o que já seria suficiente para garantir que o pombo retornasse, no sábado, em boas condições, sem precisar se alimentar novamente durante o transporte.
A esta altura você pode estar se perguntando se é possível alimentar os pombos exclusivamente com amendoins, sim é possível, há relatos na história sobre um certo trabalhador portuário, Eduardo Pape, que descarregava amendoins, nas docas, para uma fábrica de óleo, em Hamburgo na Alemanha. Ele alimentava os seus pombos exclusivamente com amendoins, pois não podia comprar ração, e conseguiu alguns primeiros prêmios. Mas não é o ideal, pois o organismo depende de uma combinação com outros nutrientes para que possa funcionar de forma mais eficiente.
Mas voltando ao assunto, existe uma forma para conseguir desacelerar o sistema digestório dos nossos pombos, a fim de otimizar esta absorção e garantir que eles tenham ainda mais reservas, para cumprir uma prova de longa duração. Isto será fundamental, principalmente se esta, for uma prova dura, com várias dificuldades, por exemplo: quando há pernoite, fazendo com que esta prova terminasse somente no domingo, exigindo muito mais esforço dos pombos.
ACELERAÇÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO
O alimento, após chegar ao estômago, provoca, naturalmente, uma aceleração do sistema digestivo, porém existe um fator muito importante a ser considerado, esta aceleração pode ser maior ou menor dependendo do tipo de alimento ingerido. Então precisamos definir bem, quais sementes utilizar para permitir que o alimento permaneça o maior tempo possível no intestino.
MAIOR ACELERAÇÃO
A aceleração do transito intestinal é devido à ação de substâncias que aumentam as contrações da musculatura lisa, como o germe de trigo, o psyllium e a Ach (acetilcolina), que reduzem o tempo de permanência dos nutrientes na luz intestinal, reduzindo consequentemente a absorção dos mesmos. Simplificando, estas substâncias são encontradas em alimentos ricos em fibras e carboidratos, estes devem ser evitados, ou reduzidos nos dias que antecedem o embarque.
Os nutrientes chamados de fibras, são aqueles cuja composição é a base de celulose, celulose é um tipo de carboidrato, que não é digerido pelo sistema digestório e somente uma parte muito pequena é digerida pelas bactérias no intestino grosso. Ela ajuda a dar volume às fezes, facilitando a evacuação, sendo importante sua utilização durante a chegada dos pombos, nas rações depurativas, acelerando a eliminação de toxinas do sistema digestório, que foram produzidas pelo excesso de esforço, são encontradas na linhaça, arroz (com casca), semente de girassol (com casca), na maioria das sementes protéicas e nas verduras, como couve e repolho.
Dentre as que são ricas em carboidratos estão as sementes Amiláceas, ou seja, que oferecem predominância de amido em sua composição, ex: milho, arroz, quinoa, aveia, cevada, trigo, etc.
MENOR ACELERAÇÃO
Já os sinais inibitórios, que desaceleram as contrações, derivam de vários transmissores, como o NO (óxido nitroso), o ATP, o VIP (Vasoactive Intestinal Peptide), a CCK (Colecistoquinina), sendo que estudos indicam que o NO seja o transmissor inibidor mais importante. É por isso que a presença do amendoim, que contém grande quantidade de arginina, que é convertida em NO durante a digestão, já promove um aumento na permanência do alimento no sistema digestório.
As sementes ricas nestes transmissores, são basicamente as Oleaginosas, ou Leguminosas, elas oferecem predominância de elementos oleosos em sua composição, como exemplos temos: amendoim, semente de girassol (sem casca), gergelim, linhaça, amêndoas, nozes, cacau, etc. são estas as sementes, com exceção da linhaça, que devem compor a maior parte da dieta, no dia do embarque.
ACELERAÇÃO NORMAL
Existe também outra classe de sementes, cuja aceleração é intermediária entre estas duas, mas devem ser utilizadas, para equilibrar a dieta, elas são da classe Protéicas, que oferecem predominância de aminoácidos em sua composição, ex: feijões de todos os tipos, ervilhas, lentilhas, soja, etc.
Para que não fiquem dúvidas com relação à utilização destas sementes vamos ver abaixo como e quando utilizar cada uma.
FIBRAS
Sabendo que as fibras promovem a aceleração do sistema digestório, vamos retirá-las da ração, nos dias que antecedem o embarque. As fibras estão presentes, em grande quantidade, nas cascas do arroz e da semente de girassol, na linhaça, na maioria das sementes protéicas e nas verduras, então estes alimentos serão cortados, ou bastante reduzidos, da dieta dos pombos pelo menos dois dias antes do embarque.
AMILÁCEAS
Os carboidratos também promovem a aceleração, mas são essenciais na nutrição, e devem ser oferecidos todos os dias aos pombos, com algumas restrições. Como eles são os primeiros a serem digeridos, serão oferecidos em pouca quantidade, na proporção de 1/3 da ração diária, logo no início da manhã do dia do embarque, esta será a primeira refeição do dia, não use o amendoim ainda, certo! Uma ração rica em carboidratos, sendo oferecida bem cedo, pela manhã, será digerida e absorvida rapidamente, fornecendo a energia necessária para suprir o pombo no primeiro dia, neste caso, a quinta-feira, o dia do embarque. Esta ração deve conter basicamente milho, mas também pode conter: arroz (sem casca), aveia, cevada, trigo, etc. além de algumas sementes protéicas.
OLEAGINOSAS
A segunda parte da ração, que será oferecida à vontade para os pombos, pelo menos três horas depois da primeira, e antes das 11:00h, deverá conter basicamente amendoins, mas também podem conter, em menor quantidade, semente de girassol (sem casca), gergelim e sementes proteicas. Esta segunda parte da ração é que vai compor a reserva da qual o pombo vai se utilizar nos dias em que estiver no caminhão e durante a solta, pois sendo aplicada nesta sequência, encontrará o estômago cheio ainda com as sementes amiláceas, permanecendo no papo até que ele se esvazie para receber o restante.
PROTÉICAS
Os aminoácidos, também são essenciais para a nutrição e serão administrados, em pouca quantidade, juntamente com as amiláceas na primeira refeição e com as oleaginosas, na segunda refeição no dia do embarque, neste caso você pode usar: feijões de todos os tipos, ervilhas, lentilhas, soja, etc, mas tem que ser em pouca quantidade.
Observe que algumas sementes são encontradas em mais de uma classe citada acima, por exemplo,
a linhaça é uma oleaginosa rica em fibras e, portanto, deve ser evitada durante a solta, mas pode ser usada como depurativa na chegada;
a semente de girassol é outra oleaginosa cuja casca é rica em fibras, então antes da solta só deve ser usada se ela estiver sem casca;
o arroz é uma semente amilácea, cuja casca também é rica em fibras, portanto, deve ser usado, sem casca e em pouca quantidade, antes da refeição final, no dia do embarque, como veremos mais adiante, também pode ser utilizada, com casca, como depurativa na chegada;
as protéicas apresentam certo percentual de fibras e carboidratos, portanto devem ser utilizadas com moderação.
TABELA NUTRICIONAL
PORÇÃO 100 g | CARBOIDRATOS | PROTEÍNAS | GORDURAS | VALOR NUTRICIONAL | FIBRAS |
LINHAÇA | 43 g | 14 g | 34 g | 495 Kcal | 33 g |
LENTILHA | 62 g | 23 g | 1 g | 339 Kcal | 17 g |
SOJA | 30 g | 36 g | 20 g | 446 Kcal | 16 g |
FEIJÃO Carioca | 62 g | 21 g | 1g | 347 Kcal | 15 g |
AVEIA | 66 g | 15 g | 7 g | 393 Kcal | 10 g |
GIRASSOL | 30 g | 29 g | 32 g | 501 Kcal | 9 g |
ERVILHA | 57 g | 22 g | 1 g | 331 Kcal | 8 g |
ARROZ | 77 g | 7 g | 1 g | 359 Kcal | 5 g |
MILHO | 69 g | 10 g | 4 g | 361 Kcal | 3 g |
TRIGO | 69 g | 12 g | 2 g | 351 Kcal | 2 g |
AMENDOIM | 12 g | 30 g | 47 g | 609 Kcal | 0 g |
Os valores desta tabela foram ordenados pela quantidade de fibras presentes em cada semente e também são valores médios, podendo ocorrer diferenças provocadas pelo local da colheita, tipo de solo e do clima, etc.
Quando olhamos para a tabela nutricional, verificamos que o amendoim oferece o melhor equilíbrio, entre os nutrientes, para oferecer a desaceleração, com uma alta concentração de gorduras, baixa concentração de carboidratos, nenhuma fibra e boa concentração de proteínas.
Sendo assim, a primeira parte da ração irá acelerar o sistema digestório, mas logo que a segunda parte começar a entrar na moela, irá lentamente provocando uma desaceleração metabólica, fundamental para o período em que o pombo estará longe do pombal.
O alimento permanecendo mais tempo no sistema digestório pode promover uma série de benefícios, dentre eles: permitindo uma fermentação, que pode gerar mais nutrientes livres, a partir de moléculas que normalmente não são quebradas pelas enzimas digestivas do pombo. Esta fermentação é promovida pela ação de bactérias que, neste estado, estimularão maior produção de hormônio antidiurético, promovendo maior retenção de líquido, que será fundamental para a manutenção, não só do sistema digestório, mas de todo o organismo, principalmente para o pombo que estará em um ambiente confinado, com pouca disponibilidade de água. Nestas condições será possível extrair mais nutrientes do alimento ingerido provocando um maior rendimento da resistência, que permitirá ao pombo voar uma distância maior antes que se lhe esgotem as energias. A ave tratada desta forma, também conseguirá se recuperar mais rapidamente ao chegar de uma prova dura. Mas lembre-se, o amendoim ajuda na recuperação só quando é aplicado antes da solta e não na chegada.
A absorção de mais nutrientes, também manterá alto, por mais tempo, o nível de insulina no organismo, isso impedirá a degradação das reservas corpóreas. Enquanto houver nutrientes para serem absorvidos, as reservas do corpo não serão utilizadas, assim, a medida que os nutrientes diminuem, diminui também a produção de insulina, isso leva o organismo a consumir a reserva energética, na tentativa de manter estável o nível de glicose no sangue, se o pombo tiver gorduras, acumuladas durante o período de treinamento, elas serão as primeiras a serem utilizadas, antes que se esgotem todas as energias e o organismo comece a utilizar a proteína corporal.
Durante as provas o organismo do pombo libera mais adrenalina, combinada com a insulina, liberada pela fartura de nutrientes ela promove um estado de satisfação, quando o nível de insulina cai muito, pela falta de nutrientes no organismo, o excesso de adrenalina acaba provocando stress, impedindo que o pombo consiga retornar, nesta fase entra uma outra vantagem do amendoim, como vimos no artigo “O poder do Amendoim” esta semente é rica em zinco, que é fundamental para o sistema neurológico quando o organismo está sob stress, pois facilita a comunicação entre os neurônios, permitindo um estado de consciência e funcionamento muscular mais duradouro, que é fundamental nos momentos finais de uma prova, permitindo que um pombo tratado desta forma, não se entregue quando falta muito pouco para chegar em casa.
Como podemos verificar, são inúmeras as vantagens na utilização do amendoim em uma colônia de pombos de corrida, principalmente quando se tratam de fundistas, mas não é só nas provas de Fundo que o amendoim traz vantagens, bem isso já é assunto para um novo artigo, e nele eu vou explicar melhor, como e quando utilizar o amendoim para os pombos ok.
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