Ao serem ingeridas, as sementes alcançam primeiro o papo, que funciona como um depósito, onde o alimento estocado é aquecido e umedecido para que amoleça, pela ação da água e das enzimas liberadas pelas glândulas salivares. O papo garante que o intervalo entre uma refeição e outra seja bastante prolongado, garantindo que uma ave, com o papo cheio, possa ficar até dias sem precisar se alimentar novamente.
Logo depois, são conduzidas ao proventrículo, onde recebem os primeiros sucos gástricos. A presença do alimento estimula a secreção de ácidos e enzimas, não são os ácidos que digerem os alimentos, a acidez é apenas um mecanismo que possibilita a ativação das enzimas digestivas, estas sim é que vão fazer esta função, e começam a digerir inicialmente os carboidratos.
Aos poucos, o alimento tratado no proventrículo é encaminhado para a moela, que tem a função de triturar as sementes, como as aves não possuem dentes, cabe ao seu estômago mecânico cumprir esta função, por isso é importante a presença de pequenos grãos de areia nesta etapa, pois eles facilitam, e muito, o trabalho de digestão. Por isso é importante, junto às refeições, servir areia diariamente aos pombos.
A Moela do Pombo
Esôfago 1
Proventrículo 2
Papilas digestivas 3
Glândulas proventriculares profundas 4
Lumen da moela 5
Saco cego caudal 6
Saco cego cranial 7
Piloro 8
Massa muscular cranioventral 9
Duodeno 10
Os carboidratos continuam o processo de digestão na moela, onde outro grupo começa a ser digerido, as proteínas, na moela são absorvidos água, eletrólitos e remédios, porém o trabalho aqui não inclui a absorção de nenhum nutriente ainda.
Na passagem da moela para o duodeno existe um controle, o piloro, que só permite a liberação dos alimentos (nesta etapa chamados de quimo), depois que eles tenham sido reduzidos a um tamanho bem pequeno.
No duodeno o pâncreas libera suas enzimas, que facilitarão a digestão das proteínas e lipídios. Junto à essas enzimas, é liberada uma secreção alcalina, que neutraliza a acidez liberada no proventrículo, e assim as enzimas pancreáticas podem ser ativadas.
Enfim, os primeiros carboidratos começam a ser absorvidos. Mas antes que isso aconteça, uma grande quantidade de água precisa entrar no duodeno pelas suas paredes, calma… não se preocupe, isso acontece naturalmente, por osmose, em função do gradiente de concentração de nutrientes e sais minerais, pela presença do alimento no duodeno, ser maior que no interior do corpo.
Os carboidratos e proteínas continuam seu processo de digestão, sendo quebrados em partes cada vez menores, para que continuem sendo absorvidos, mas…. e quanto aos lipídeos? Os lipídios são os últimos a serem digeridos, porque um fator dificulta a sua digestão, os lipídios não se dissolvem na água, e para que possam ser processados, entra em ação a bile, que é lançada sobre o quimo, pelo mesmo canal das enzimas liberadas pelo pâncreas, no duodeno, sem a bile as enzimas pancreáticas não poderiam digerir os lipídios.
Embora os pombos não tenham vesícula biliar, a bile é produzida abundantemente pelo fígado. Quando os pombos não se alimentam, há uma diminuição na produção de fezes, mas a bile continua a ser produzida normalmente, isto resulta em uma excreção verde viscosa.
Caso a bile não chegasse ao duodeno, suas ações seriam impedidas. Não haveria a emulsificação das gorduras e as enzimas pancreáticas não poderiam agir sobre ela. A falta dos ácidos biliares, não permitiriam também a solubilização das vitaminas A, D, E e K, isso impediria sua absorção pelo intestino, sendo eliminados pelas fezes. O elevado poder osmolar dos lipídeos, se não forem digeridos, impediriam a reabsorção de grande parte da água que foi injetada no duodeno, provocando sérios quadros de diarreia.
Sistema Digestório
1. Papo
2. Fígado
3. Proventrículo
4. Saco cego da moela
5. Baço
6. Alça duodenal envolvendo o pâncreas
7. Jejuno
8. Divertículo vitelino
9. Íleo
10. Ceco
11. Cólon do intestino grosso
12. Cloaca
13. Abertura da cloaca
14. Vasos mesentéricos craniais
15. Nervo e artéria isquiáticos
16. Músculo Grácil e adutor
Agora sim, todos os mecanismos de digestão provenientes do organismo já foram ativados, e os seus produtos são encaminhados para o intestino delgado, é aqui que são absorvidos a maior parte de todos os nutrientes, provenientes da dieta, assim como a água e os eletrólitos. Também na sua parte final, ainda são absorvidos a vitamina B12 e os ácidos biliares.
As substâncias digeridas são absorvidas para o sangue e encaminhadas para o fígado, através do sistema “porta”. Então para serem absorvidos, os Carboidratos são reduzidos a glicose, as Proteínas são reduzidas a aminoácidos e os Lipídios são reduzidos a ácidos graxos, é desta forma que eles são absorvidos e transportados até o fígado, porém como vimos, os lipídios não são hidrossolúveis, e por isso não podem ser transportados livremente pelo sangue. Então para que os lipídios cheguem até o fígado eles são absorvidos e transportados pelo sistema linfático. O sistema digestório é realmente fantástico, produzindo soluções simples para situações complicadas não é mesmo.
Mas não se engane, apesar de tanto trabalho, por sinal, muito bem organizado até aqui, nem todos os nutrientes foram digeridos o suficiente para serem absorvidos, muitos ainda permanecem intactos, ou por que a digestão não foi eficiente, ou por que o organismo do pombo não tem enzimas capazes de fazer todo o serviço! Note também que os ácidos e enzimas, no trajeto do proventrículo até o intestino delgado, tornam o ambiente extremamente hostil, para qualquer microrganismo, e a quantidade de vermes, fungos e bactérias neste espaço é muito reduzido, pois poucos conseguem sobreviver aqui.
Tudo começa a mudar, quando finalmente o produto da digestão, chega ao intestino grosso. Com a redução da acidez e ausência das enzimas digestivas, os microrganismos sobreviventes, principalmente bactérias, crescem se proliferam, e começam a povoar este ambiente, os nutrientes que não foram digeridos anteriormente, servem de combustível para eles.
De maneira geral qualquer microrganismo pode se desenvolver no intestino grosso, até mesmo outros organismos maiores como anelídeos, cestódeos e nematódeos. Muitos são benéficos, digerindo nutrientes que o pombo não tem condições de digerir, ou quebrando outros para que o pombo possa absorver, mas alguns deles podem provocar doenças, como as salmonelas, coccídeos, protozoários, vermes e outros parasitas.
É também nesta parte do intestino que vem se instalar os Probióticos que aplicamos aos pombos. 95% desta microbiota está instalada no colo do intestino grosso e pode conter cerca de 500 espécies diferentes de microrganismos. O tubo digestivo de um filhote é estéril ao nascimento, sendo colonizado gradativamente a partir do momento que eles recebem as primeiras refeições paternas, através do “Leite de Pombo”, por este motivo é de extrema importância a aplicação de Probióticos desde os primeiros dias de vida dos pombos.
As populações bacterianas exercem uma grande atividade no organismo dos nossos atletas, na verdade, grande parte da atividade metabólica na luz do intestino grosso depende delas. Dentre estas ações podemos destacar:
1. fermentação (ação enzimática) de resíduos da dieta;
2. produção de energia por meio dos ácidos graxos de cadeia curta;
3. proteção contra a colonização e invasão de microrganismos estranhos e nocivos;
4. desenvolvimento e estimulação da defesa imune;
5. consumo de colesterol;
6. produção de várias vitaminas do complexo B e da vitamina K;
7. favorecem a recuperação e a absorção de íons como o cálcio, ferro e magnésio e
8. complementam a absorção de água, sódio e cloreto.
A absorção de nutrientes no interior do intestino grosso é bem menor do que no intestino delgado, porém conferem mais um aporte de energia e vitaminas que são fundamentais para a manutenção do organismo.
Mas atenção!! Pombos tratados com antibióticos, perdem grande parte de sua “Flora ou Microbiota Intestinal”, provocando sérios distúrbios, entre eles podemos citar:
1. redução na fermentação (ação enzimática) de resíduos da dieta;
2. redução na produção de ácidos graxos;
3. comprometimento da produção de energia;
4. diminuição da defesa contra a colonização de microrganismos estranhos e nocivos;
5. alteração do metabolismo da bilirrubina e
6. poderão aparecer deficiências provocadas pela falta de vitaminas K e as do complexo B.
Outro problema muito comum que afeta a “Microbiota Intestinal” é uma mudança brusca na alimentação, principalmente o aumento de lipídios na dieta, pois pode provocar quadros de diarréia, pela falta de bactérias específicas, que ajudem na metabolização desta gordura, como acontece com o uso exagerado ou indiscriminado do amendoim.
PARA ONDE VÃO OS NUTRIENTES DEPOIS QUE CHEGAM AO FÍGADO?
A glicose é utilizada para produção de energia (ATP), quase que imediatamente após ter sido absorvida. No fígado uma parte é transformada inicialmente em glicogênio e a maior parte é transformada em ácidos graxos (o mesmo produto dos lipídios), convertidos a triglicerídeos, combinados com lipoproteínas (LDL, HDL) e enviados pelo sistema sanguíneo para serem armazenados nos adipócitos.
Os aminoácidos que chegam ao fígado são transformados em Proteínas, algumas são utilizadas pelo próprio fígado e o restante distribuídas pelo corpo, através do sistema sanguíneo, para participar da renovação e construção de todo o organismo, o excesso vai compor a reserva calórica.
Os ácidos graxos chegam pelo sistema linfático e são convertidos a triglicerídeos, mas para entrar no sistema sanguíneo, precisam ser combinados com lipoproteínas (LDL, HDL), para que possam ser distribuídos para todas as células do corpo.
Todo o excedente de nutrientes, que não foi utilizado pelo organismo, é armazenado como reserva calórica. Deste total os Carboidratos formam apenas 1% desta reserva, na forma de glicogênio, as proteínas compõem 23% e a gordura nos adipócitos 76%.
O organismo precisa manter um nível mínimo de glicose no sangue, quando este nível começa a baixar, ele vai buscar na reserva calórica. Pela ordem, quando o pombo precisa de energia extra, durante um treino, ou uma prova por exemplo, ele utiliza esta reserva começando pelo glicogênio, que se esgota rapidamente. Se o exercício for mais prolongado ele passa a utilizar também as reservas de gordura. Se no caso a prova ultrapassar seus limites, ele ainda vai poder dispor da reserva de proteínas.
Interessante ressaltar que embora o maior estoque de energia, esteja acumulada na forma de gordura nos adipócitos, 80% dela provem da dieta de Carboidratos que foram transformados em ácidos graxos pelo fígado e apenas 20% são provenientes dos lipídios absorvidos. O metabolismo de proteínas é relativamente lento e consome muita energia, tornando o ganho calórico pequeno em relação à gordura, por isso é mais fácil para o organismo, utilizar primeiro a gordura como fonte de energia, e somente quando elas atingem valores muito baixos, ele passa a utilizar as proteínas. Os resíduos da utilização dos nutrientes absorvidos e das reservas, são eliminados pela urina.
Cloaca
Cólon 1
Coprodeu 2
Prega do coprodeu 2′
Urodeu 3
Prega do urodeu 3′
Proctodeu 4
Abertura da cloaca 5
Orifício uretérico 6
Papila do ducto deferente 7
Posição do orifício do oviduto 8
Bolsa cloacal 9
Glandula Dorsal do proctodeu 9′
Pele 10
Pena da cauda 11
Gl. Uropígea 12
Papila da Glandula Uropígea 12′
Músculos que circundam as vértebras caudais 13
Depois desta longa viagem, alguns subprodutos ainda restaram no intestino grosso, ou por não terem sido totalmente digeridos, ou por que não houve tempo hábil para isso, ou mesmo por não serem elementos digeríveis. Todos são considerados rejeito, e podem até permanecer aí por algum tempo, caso não haja sinalização de entrada de novo alimento no sistema digestivo, mas logo a urina é acrescentada aos excrementos, e todo ele é eliminado como fezes pela cloaca,
Quando estas fezes se assemelham a um pequeno enrolado, marrom e arredondado, com uma placa esbranquiçada sobre ela, temos a certeza de que o sistema digestório está funcionando corretamente.
Segue abaixo um pequeno resumo do funcionamento do sistema digestório, para dar mais praticidade no entendimento.
RESUMO – Sistema Digestório:
Papo: armazenamento inicial do alimento.
Proventrículo: início da digestão dos carboidratos.
Moela: início da digestão das proteínas, continuação da digestão dos carboidratos e início da absorção da água e eletrólitos.
Duodeno: início da digestão dos lipídeos; continuação da digestão dos carboidratos e das proteínas; e início da absorção dos carboidratos.
Intestino delgado: continuação da digestão dos carboidratos, das proteínas e dos lipídios; início da absorção das proteínas e dos lipídeos; e continuação da absorção dos carboidratos, além da absorção da água e dos eletrólitos.
Intestino grosso: reinício do processo de digestão dos carboidratos, proteínas e lipídios, agora mediado pelas bactérias, com produção de vitaminas e outros nutrientes, e continuação da absorção dos carboidratos, proteínas, lipídeos, água vitaminas e eletrólitos antes que sejam eliminados pela cloaca.
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