Tenho ouvido relatos de muitos criadores reclamando a perda de muitos filhotes nos primeiros voos, a primeira coisa que pensamos é que algum “abusado” pegou esse filhote! Só pode! Não é possível, como ele pode sumir assim?
Porém, antes de começar a culpar os outros, precisamos descobrir o que pode levar um filhote a se perder, pois na maioria das vezes a culpa é nossa mesma. Perder um ou outro filhote pode sim ser considerado normal, mas tem gente perdendo muitos filhotes todos os dias.
A primeira vez que ouvi isso achei muito estranho, pois dificilmente perco algum filhote, na verdade dá para contar nos dedos os que perdi, um bateu no fio e morreu, outros dois por balada de seta, outro foi parar na casa de outro criador, e somente dois não tive notícias, isso em um período de dez anos, e teve ano que cheguei a tirar cento e cinquenta filhotes. Quando eu falava isso nos grupos, muitos diziam: _Ahh, mas é porque você não mora aqui, lá onde você mora só tem meia dúzia de criadores, vem para cá que eu quero ver?
Pois bem, fiz isso por dois anos, morando a cem quilômetros de distância, e instruindo outra pessoa para cuidar dos pombos, a perda também foi insignificante, e mesmo dos poucos que se perderam quase todos retornaram depois de algum tempo. Porém muitos filhotes apareceram por lá, e instruí ao tratador a não os deixar entrar no pombal, mas se entrassem, não deixar comer nem beber, anotando a anilha e soltando em seguida. Inclusive teve um filhote de outro criador que depois que entrou a primeira vez, não queria mais ir embora, descobrimos quem era o dono fomos à casa dele entregar, mas era só ele soltar que mesmo assim ele voltava.
Nós sabemos que um dos fatores que estimulam um pombo-correio a se estabelecer em um determinado local é o “amor” que a ave desenvolve por ele, mas mesmo um pombo adulto pode mudar de pombal sem a menor cerimônia, caso se sinta desconfortável por algum motivo, quanto mais um filhote que ainda não aprendeu a “amar” o lugar onde nasceu. Então quanto maiores forem as motivações que você possa utilizar para influenciar os seus filhotes, menores as chances dele se interessar por outro pombal.
Mas na maioria das vezes não é a motivação que falta, mas o filhote sentir que existe espaço para ele. Um dos principais vilões da adução é a superpopulação do pombal. Pombais onde a lotação esteja esgotada, o filhote pode simplesmente não encontrar seu lugar no viveiro e procurar outro lugar para ficar, um pombal lotado vai gerar disputas entre os pombos pelos melhores lugares, os mais fracos, que geralmente são os mais jovens, com um ou dois meses de vida, podem se sentir oprimidos e ao serem soltos, e entrarem em contato com outros pombos durante as revoadas, podem querer conferir se o outro pombal pode lhe oferecer melhor abrigo.
Então a melhor estratégia, é começar a ensinar ao filhote como entrar no pombal, antes mesmo que ele saiba voar, para permitir que ele possa ensaiar os primeiros voos logo que completar um mês de vida, pois quando começam a dar os primeiros voos nesta idade, geralmente eles pulam do telhado, fazem uma pirueta, dão a volta e pousam logo em seguida, esta etapa é fundamental porque eles aprendem um dos fundamentos mais básicos e mais difíceis do voo, “o pouso”. Você pode saber mais sobre este tema no artigo “Quando Posso Começar a Treinar meus Filhotes”, que escrevi outro dia. Se você deixar seus filhotes presos por mais tempo achando que com mais idade eles não vão se perder, está enganado! Um filhote mais velho estará com a sua estrutura mais completa, quando ele sair para voar, não vai voltar logo, vai sair para um voo longo sem ter aprendido a pousar, é por isso que ele fica sobrevoando o pombal várias vezes, pra lá e pra cá sem conseguir pousar, com dificuldade até mesmo para pousar em outro local mais alto, como o topo de um prédio, ou um telhado. É a mesma coisa quando alguém sobe em uma árvore pela primeira vez, subir é fácil, mas depois não sabe como descer.
Sendo assim é fundamental que no início, os filhotes tenham um espaço só deles, onde não precisem disputar poleiros nem comida com pombos mais velhos, até mesmo com outros filhotes mais velhos, na prática, o ideal é juntar os filhotes jovens com os mais velhos depois que eles já tiverem dominado seu espaço, e mesmo assim é de extrema importância ter mais poleiros sobrando no pombal, uma boa estratégia é acrescentar alguns poleiros na parte de baixo e só retirar depois de três meses pelo menos, no final do artigo “Sistema NATURAL” eu explico melhor como manejar com os poleiros.
Mas não é só isso, existem outros fatores que podem levar um pombo jovem a se perder, como por exemplo, o ataque de aves de rapina. Meu pombal ficava bem à margem da mata e por várias vezes falcões atacaram os filhotes em adução, de todas elas perdi um único pombo apenas, aquele que bateu no fio, justamente porque estava assustado fugindo do predador, eu mesmo não vi isso acontecer, um vizinho da outra rua veio trazer o pombo morto para mim, informando o que aconteceu. É lógico que estou informando apenas as baixas permanentes, pois algumas vezes algum ficava sem rabo, não me esqueço da primeira vez que um falcão conseguiu dar o bote em um filhote, foi pena para tudo que é lado, mas quando o filhote conseguiu pousar, não havia nem um arranhão sequer, mas o rabo só tinha duas penas.
Nestes casos, se o filhote já aprendeu a reconhecer o pombal como um lugar seguro, na primeira oportunidade durante o ataque, ele vem correndo para o pombal, na maioria das vezes, era nessa hora que o falcão conseguia dar o bote, teve um que chegou a cair em cima do filhote já pousado no telhado do pombal, mas como estava muito perto consegui espantar o falcão antes dele travar suas garras. Não há como evitar que seu filhote seja atacado por alguma ave de rapina algum dia, mas você pode reduzir esta possibilidade evitando soltar os filhotes logo cedo pela manhã ou à tardinha antes do sol se pôr, estes são os horários que acontecem a maioria dos ataques, também é conveniente não soltar os filhotes em dias de vento muito forte, nestes dias os falcões têm mais dificuldade em encontrar uma boa presa, então um bando de filhotes pode ser uma “boa pedida”.
Outro detalhe importante, evite soltar os filhotes junto com os pombos mais velhos logo de cara, mesmo que sejam pombos jovens, pombos de ano gostam de voar muito e explorar lugares mais afastados, pombos que estão aprendendo a voar, ainda tem medo de se afastar, além de se cansarem com mais facilidade, solte primeiro os pombos mais velhos e depois que eles tiverem voado algum tempo solte os filhotes, nesta hora os pombos mais velhos já se afastaram o suficiente e costumam ficar dando voltas mais próximo ao pombal, sem se afastar muito.
Agora, você também pode ajudar seus colegas, para isso não deixe que um pombo estranho se alimente no seu pombal, pois se ele achar água, comida e conforto, pode gostar e ficar para sempre. Muitos criadores, com o intuito mesmo de ajudar ao receberem um filhote estranho no seu pombal, oferecem água e comida antes de soltar, não faça isso, esse procedimento só deve ser usado com um pombo extraviado de solta, para que ele se recupere e retome o caminho de volta para seu pombal, que com certeza ainda está distante. Um filhote, com certeza é de perto, as vezes do vizinho, então você não precisa alimentá-lo, o ideal mesmo é não permitir nem mesmo que ele entre no seu pombal.
Por último, muitos acham que, prender por algum tempo aquele pombo que tem a mania de sumir de vez enquando, vai “educa-lo” a não procurar outro pombal, isto é um engano, pois uma das coisas que o pombo mais preza é a liberdade e se você solta os companheiros dele, e deixa ele preso, quando você soltar ele não vai querer entrar, simples assim. O que você deve fazer é descobrir o que está incomodando aquele pombo para ele não querer voltar. Está faltando poleiro? Tem algum pombo batendo nele? Tem dificuldade em chegar na comida? Se for um pombo que valha a pena é bom descobrir, se não o melhor é deixa-lo escolher seu destino, ou deixa-lo sempre preso.
É claro que existem vários outros motivos que podem levar os filhotes a se perderem, porém são fatores dos quais não temos controle, ou o controle se torna quase impossível, portanto não há praticamente nada ou quase nada que possamos fazer, então não vou tratar deles aqui. até porque estes são os que provocam as menores perdas, concentre-se então naquilo que você pode fazer, observe, esteja atento aos seus pombos, aprenda a interpretar o que eles dizem, e eles lhe dirão o que está acontecendo!
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