A bíblia relata no capítulo 8 do livro de Gênesis que: após o dilúvio Noé teria soltado uma pomba, por três vezes, até que não retornasse mais, e assim ter certeza que as águas haviam baixado, então para começarmos a falar sobre este assunto, vamos recorrer a estes relatos nas Escrituras Sagradas, a partir do verso 6 do referido capítulo, até o verso 13.
6 Passados quarenta dias, Noé abriu a janela que fizera na arca.
7 Esperando que a terra já tivesse aparecido, Noé soltou um corvo, mas este ficou dando voltas.
8 Depois soltou uma pomba para ver se as águas tinham diminuído na superfície da terra.
9 Mas a pomba não encontrou lugar onde pousar os pés porque as águas ainda cobriam toda a superfície da terra e, por isso, voltou para a arca, a Noé. Ele estendeu a mão para fora, apanhou a pomba e a trouxe de volta para dentro da arca.
10 Noé esperou mais sete dias e soltou novamente a pomba.
11 Ao entardecer, quando a pomba voltou, trouxe em seu bico uma folha nova de oliveira. Noé então ficou sabendo que as águas tinham diminuído sobre a terra.
12 Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba, mas desta vez ela não voltou.
13 No primeiro dia do primeiro mês do ano seiscentos e um da vida de Noé, secaram-se as águas na terra. Noé então removeu o teto da arca e viu que a superfície da terra estava seca.
Gênesis 8:6-13 – Nova Versão Internacional – pt
Pois bem, como columbófilo, uma das primeiras perguntas que me faço é! O pombo que Noé soltou seria um Pombo-Correio? É possível, mas a primeira vista, considerando as características que determinam um Pombo-Correio parece que não, vejamos: Pombos-Correios tem como característica principal retornar para seu local de origem assim que são libertados, seja de que lugar for, não importando a distância. Considerando que atualmente muitas soltas são realizadas mar a dentro, de onde os pombos retornam para o continente sem muitas dificuldades, então era de se esperar que: se a pomba solta por Noé fosse um Pombo-Correio ela buscasse retornar para seu local de origem, o que aparentemente não aconteceu, visto que tenha retornado para a arca por duas vezes, porém fica a dúvida por conta de não ter retornado pela terceira vez teria ela finalmente encontrado terra firme em casa?.
Poderíamos supor que o seu local de origem ainda estivesse submerso na primeira tentativa, e mesmo que tenha encontrado terra firme na segunda oportunidade, este ainda não seria seu local de origem, o que só teria ocorrido pela terceira vez que Noé a libertou.
Ora, poderíamos supor também que Noé conhecia as qualidades daquela pomba, e sabia que tentaria retornar para seu local de origem, e caso não o encontrasse teria condições de retornar para a arca.
Para isso, o local de origem não poderia estar mais que 450 Km de distância da arca, pois seria a maior distância que um pombo poderia alcançar, e ainda retornar, entre o nascer e pôr do sol de um mesmo dia, como está relatado nos versos 10 e 11.
Ora, nós sabemos também que Pombos-Correio não são como aves migratórias, que partem de seu local de origem e retornam após o inverno, pois em situação normal, não se afastam muito do seu pombal, apenas tem a característica de retornar ao seu local de origem quando libertados em qualquer lugar, o que nos levaria pensar que ele não retornaria para a arca. Porém não podemos nos esquecer que: como foi relatado no verso 9: “Mas a pomba não encontrou lugar onde pousar os pés porque as águas ainda cobriam toda a superfície da terra e, por isso, voltou para a arca, a Noé.”
No meio do oceano qualquer navio, por menor que seja, é um porto seguro para um pombo, e não são raros os relatos de Pombos-Correios pousando em navios e plataformas em alto mar, visto que este seria o único ponto onde podiam pousar a planta dos pés, caso não alcançassem terra firme, mas por que a pomba não retornou pela terceira vez?
As águas poderia ter baixado o suficiente para expor o local de origem daquela pomba, mas não podemos descartar também a hipótese que ela tenha sido atacada pelo corvo, solto por Noé no início. Antes de Noé soltar a pomba ele soltou um corvo, que ficou dando voltas, pois não tinha onde pousar, mas a princípio este não teria retornado para a arca. Ora um corvo faminto, poderia muito bem ter atacado a pomba, como aconteceu com uma das pombas soltas pelo Papa Francisco e por duas crianças durante a oração do Ângelus em 2014 (neste caso foi uma gralha, parente próxima do corvo), e em outro caso na Alemanha, quando foi feito o registro de corvos atacando um pombo.
Ora, pensando assim poderíamos imaginar que o plano original de salvar um casal de cada espécie animal poderia não ter dado certo, afinal se a pomba tivesse morrido não haveria mais pombos hoje em dia, mas a prova está aí em qualquer lugar, temos pombos de várias raças, espalhadas pelo mundo inteiro. Porém, um fato que é omitido das narrativas abreviadas, quando se conta a história do dilúvio, pode ajudar a entender o ocorrido. O fato está descrito no seguinte texto:
1 Então o Senhor disse a Noé: “Entre na arca, você e toda a sua família, porque você é o único justo que encontrei nesta geração.
2 Leve com você sete casais de cada espécie de animal puro, macho e fêmea, e um casal de cada espécie de animal impuro, macho e fêmea,
3 e leve também sete casais de aves de cada espécie, macho e fêmea, a fim de preservá-las em toda a terra.
Gênesis 7:1-3 – Nova Versão Internacional – pt
Ora, quer dizer então que era apenas um casal de cada espécie de animal impuro, mas sete casais de animais considerados puros e no caso das aves sete casais de cada uma espécie! Bom eu não vou falar aqui sobre animais puros e impuros, para entender o que são animais considerados impuros, leia o capítulo 11 do livro de Levítico e para entender melhor quais são os animais considerados puros leia o capítulo 14 do livro de Deuteronômio.
Isto justifica a atitude de Noé soltar apenas um exemplar de cada espécie, um corvo e uma pomba, pois haveriam ainda, pelo menos treze exemplares de cada espécie guardados na arca. Mas não é só isso: quando lemos no verso 6 do Capítulo 8, que Noé solta a pomba depois de passados quarenta dias, temos a falsa impressão de que teria se passado apenas este período de tempo desde o início do dilúvio, afinal como está escrito no verso 17 do Capítulo 7:
17 Quarenta dias durou o Dilúvio sobre a terra, e as águas aumentaram e elevaram a arca acima da terra.
Gênesis 7:17 – Nova Versão Internacional – pt
Porém se estabelecermos a cronologia dos acontecimentos, podemos verificar que o tempo foi bem maior, vejamos: no Capítulo 7, versos 11 e 12 temos:
11 No dia em que Noé completou seiscentos anos, um mês e dezessete dias, nesse mesmo dia todas as fontes das grandes profundezas jorraram, e as comportas do céu se abriram.
12 E a chuva caiu sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.
Gênesis 7:11,12 – Nova Versão Internacional – pt
Ora, temos que o dilúvio começou um mês e dezessete dias após Noé ter completado seiscentos anos, e que as águas secaram-se sobre a terra no dia do aniversário de Noé, que completava seiscentos e um anos, como está relatado no Capítulo 8, verso 6. Então teriam se passado 317 dias desde o início do dilúvio, o que seria equivalente a dez meses e onze dias. Estas narrativas passam a ideia de que Noé tenha nascido no dia primeiro de janeiro, ou que pelo menos, antes de Cristo, o tempo seria contado a partir daquela data, e tudo isto fica mais claro quando lemos os versos de 2 a 5 do capítulo 8:
2 As fontes das profundezas e as comportas do céu se fecharam, e a chuva parou.
3 As águas foram baixando pouco a pouco sobre a terra. Ao fim de cento e cinqüenta dias, as águas tinham diminuído,
4 e, no décimo sétimo dia do sétimo mês, a arca pousou nas montanhas de Ararate.
5 As águas continuaram a baixar até o décimo mês, e no primeiro dia do décimo mês apareceram os topos das montanhas.
Gênesis 8:2-5 – Nova Versão Internacional – pt
Ora, considerando este período, poderíamos pensar que haveria tempo suficiente para que os pombos levados para a arca pudessem se reproduzir e que os filhotes tenham se desenvolvido o suficiente para voar, então poderíamos concluir que se Noé soltou um dos filhotes do casal original, naturalmente ele retornaria à arca, mesmo que encontrasse terra firme, como está registrado na segunda vez que Noé soltou a pomba, onde ela retorna com um ramo de oliveira, mas neste caso, não justificaria a pomba não ter retornado pela terceira vez.
Mas não é só isso em pouco mais de dez meses, sete casais de pombos poderiam ter reproduzido até setenta filhotes, os filhotes da primeira geração mais vinte e oito filhotes e os da segunda geração mais quatorze, formando um total de cento e vinte e seis pombos, então não faria muita diferença se apenas uma pomba fosse perdida.
Agora se você já achava difícil aceitar que aquela arca não seria suficiente para embarcar um casal de cada espécie, imagine agora, sabendo que no caso dos animais puros, foram embarcados sete casais.
Porém, como a maioria das perguntas para as situações mais inacreditáveis, a resposta pode ser a mais simples possível. As ilustrações acerca do dilúvio mostram sempre animais adultos entrando pela arca, enormes elefantes, rinocerontes, girafas, tigres, leões e leopardos, mas por acaso já lhe ocorreu que tudo pode ter sido diferente? Ora, não é de hoje que quando se pensa em transferir animais de um lugar para o outro usamos filhotes e não adultos.
Já pensou, um bebezinho de elefante, que gracinha, e os tigres e leões, apenas pequenos gatinhos, fofinhos! Se você fosse Noé, poderia colocar os leõezinhos junto com os antílopes e não haveria problema nenhum!
Desta forma haveria espaço para todos na arca e levando apenas alguns animais puros adultos, haveria leite suficiente para amamentar a filhotada toda e ainda conseguir manter os carnívoros depois de desmamados, com as crias principalmente das aves, que tem um ciclo de reprodução e crescimento mais curto que os outros animais.
Quanto à pomba, existem grandes chances que tenha sido um ancestral do nosso Pombo-Correio atual, principalmente por conta do relato no verso 11 do Capítulo 8, quando ela retorna apenas no fim da tarde.
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