Aves Migratórias

Aves Migratórias

Antes de mais nada, é preciso ter em mente que pombos-correio não são aves migratórias, as aves migratórias são protegidas por lei, e caso você inadvertidamente diga à alguma autoridade que os pombos em seu poder são aves migratórias, corre o sério risco de ser autuado por engano. Como eu disse no artigo anterior, segundo a Portaria IBAMA 83/92, os Pombos-Correio são classificados como animais de estimação.

 

Mas se tanto os Pombos-Correio, quanto as aves migratórias, são capazes de se deslocar à distâncias tão grandes, qual é a diferença entre eles? Bem, existem várias diferenças que podem explicar isso, mas a principal é que o motivo que os leva a viajar tão longe é completamente diferente, na verdade o motivo é oposto, os Pombos-Correio voam esta distância com o intuito de voltar para casa, já as aves migratórias o fazem para sair de casa. Mas não é só isso, vamos entender porquê?

 

Aves migratórias, como as andorinhas e os falcões peregrinos são capazes de cruzar distâncias enormes, que podem ultrapassar os 9.000 Km, como acontece entre os Estados Unidos e o Brasil, distâncias dez vezes maiores que as percorridas pelos nossos pombos, porém dependem de fazer a viagem pela primeira vez junto com seus pais, se isso não acontecer, eles serão incapazes de fazer a migração durante o período de inverno e correm o sério risco de morrerem de frio e fome, por conta da situação adversa gerada pela queda de temperatura e os efeitos provocados pela neve nesta estação do ano.

 

Já os Pombos-Correio, naturalmente não se afastam muito do lugar onde nasceram, mas a grande maioria é capaz de retornar ao seu local de origem a partir de qualquer lugar que forem soltos em um raio de até 900 Km, alguns tem a habilidade de retornar de mais longe, mas são raros os que conseguem retornar de distancias superiores a 2.000 Km.

 

Também, salvo raras exceções, os Pombos-Correio não voam durante a noite, mas a maioria das aves migratórias o fazem. Em contrapartida, as aves migratórias fazem escalas (quando podem) em locais específicos, para depois seguirem viagem, já os Pombos-Correio esgotam todas as suas energias de uma vez para voltar. E ainda bem por isso, porque pombo que faz escala, não ganha prova, não é mesmo?

 

Pluvialis fulva -Bering Land Bridge National Preserve, Alaska
Foto: Bering Land Bridge National Preserve

As aves migratórias geralmente voam em V, um tipo de formação onde as aves da frente se revezam na liderança, facilitando o voo de quem vem atrás. Já foi comprovado que esta formação permite uma economia significativa de energia, esta economia permite por exemplo que os Golden Plover (Pluvialis fulva), conhecidos por nós aqui como Tarambolas Douradas do Pacífico, ou simplesmente Maçaricos, possam percorrer os 4.000 Km entre o Alaska e as ilhas do Hawai, batendo suas asas 250 mil vezes, durante 88 horas ininterruptas.

 

Para que um Golden Plover, sozinho, consiga percorrer esta distância, ele precisaria acumular 82 gramas de gordura, que serviria como combustível durante o percurso, o voo tem que ser direto, pois não há nenhuma ilha para fazer escala, então ele não tem como se alimentar durante o percurso! O detalhe é que essas aves conseguem acumular no máximo entre 72 a 75 gramas de gordura antes de iniciarem a migração, sendo assim seu combustível iria acabar faltando cerca de 400 Km antes de chegarem ao Hawai. Literalmente elas iriam voar quilômetros para morrer na praia. Mas elas não morrem, tanto que estão aí para contar a história. Mas como então elas conseguem fazer isso?

 

O segredo desta façanha está no detalhe que ao voarem neste tipo de formação em V, elas conseguem economizar mais de 30% de energia, o que garante uma autonomia de mais 2.250 Km de voo. Isso é mais que suficiente para conseguirem chegar ao destino, e ainda garantir uma reserva, caso encontrem mal tempo pelo caminho, o que certamente iria atrasar a viagem. Você pode saber mais sobre esta ave aqui, inclusive pode verificar no mapa, o rastreamento feito desde 2009, por uma equipe de pesquisadores Americanos, liderados pelo professor Wally Johnson, sobre o percurso destas aves durante vários anos. O site está em Inglês, mas você pode clicar com o botão direito do mouse e clicar em “Traduzir esta página para o português” (obs: quando entrar no site, clique no mapa para ampliar).

 

Pombos em Formação
Pombos em forma de meia-lua

Quanto aos pombos, estes voam em forma de meia lua, uma formação claramente competitiva, onde os mais velozes estão concentrados no centro e à frente desta meia lua e os mais lentos vão se posicionando cada vez mais para as extremidades até que não conseguem mais acompanhar o bando e se desgarram pelas pontas.

 

Os pombos ficam o tempo todo competindo para ver quem fica na frente. A medida que vão se cansando, ou não conseguem acompanhar o bando, vão se posicionando nas extremidades tentando aproveitar o vácuo deixado pelos pombos que vão à frente até se desgarrarem pelas laterais.

 

Grosseiramente falando, os pombos de Velocidade são musculosos, por isso tem muita explosão de velocidade, os pombos de Fundo têm muita resistência física, conseguem voar mais longe, mas não alcançam velocidades muito altas, já os pombos de Meio Fundo apresentam uma combinação de força e resistência.

 

Mapa da Meia-Lua
Formação dos Pombos

O que permite os pombos de Fundo acompanhar os pombos de Velocidade é justamente o vácuo criado pela disputa da liderança entre os pombos de Velocidade que diminui a resistência do ar para quem vem atrás.

 

Por isso pombos de Velocidade não conseguem ganhar provas de Meio Fundo e Fundo, por serem mais velozes, logo que saem do transporte, eles puxam o pelotão voando na frente, os pombos de Meio Fundo e Fundo vem atrás, no vácuo. Depois de 300 ou 400 Km os pombos de Velocidade começam a cansar e “escorregam” para as pontas da meia lua até se desgarrarem, pois, os Pombos-Correio não diminuem o ritmo para ajudar um companheiro que ficou para trás, diferente das aves migratórias.

 

A partir daqui então os pombos de Meio Fundo assumem a ponta. O ritmo deles é mais lento, mas sua estrutura lhes permite voar mais longe, como estavam mais descansados estes disparam na frente e os pombos de Velocidade não conseguem mais alcança-los.

 

Porém se a distância for maior que 600Km, os pombos de Meio Fundo também se cansam e cedem lugar para os pombos de Fundo. Os pombos de Fundo são aqueles que durante a maior parte do percurso estiveram no centro da meia lua no vácuo dos pombos de Velocidade e de Meio Fundo, só economizando energia, mas eles não fazem isso conscientemente, eles simplesmente ficaram nesta posição porque estavam tentando alcançar os pombos de Velocidade e involuntariamente acabaram se beneficiando do vácuo.

 

Agora você pode estar se perguntando, como voariam os Pombos-Correio se houvessem apenas pombos de Fundo competindo em uma prova de 700 Km, pois a maioria dos criadores sabe muito bem diferenciar pombos de Fundo dos pombos de Velocidade e não enviam Pombos de Velocidade para Provas de Fundo, pois correriam o sério risco de perdê-los.

 

O critério é o mesmo, havendo apenas pombos de Fundo, eles se revezariam nas primeiras posições constantemente. A medida que os pombos da frente ficam cansados, os de trás assumem a ponta, como os pombos de Fundo tem mais resistência, conseguem acompanhar o bando e, acabam descansando no vácuo, para logo em seguida assumir a frente de novo e assim vão trocando posições até chegar ao destino.

 

Bem, agora você já conhece as diferenças entre os Pombos-Correio e as aves migratórias, então não vá mais dizer por aí que Pombos-Correio são aves migratórias heim! Abraços e até o próximo artigo.

 
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