Olá pessoal, já tem bastante tempo que eu não paro para escrever um artigo aqui no blog, mas por conta das incertezas surgidas por esta pandemia, não poderia deixar de ajudar os columbófilos a conhecer um pouco sobre as características do coronavírus em relação aos pombos.
Bom, em primeiro lugar vamos saber um pouco sobre a origem do nome para este vírus. Em espanhol corona significa coroa, isso por que as primeiras visualizações microscópicas destes vírus mostravam uma circunferência com grandes espículas ao seu redor semelhantes a coroa solar. Estas espículas são na verdade peplômeros, geralmente constituídos de glicoproteínas e lipídios, dos quais alguns funcionam como “chaves” que servem para abrir as portas das células que eles querem infectar.
Mas como é que um vírus consegue causar infecção? Bem isso funciona mais ou menos assim: como acontece nas nossas casas, cada porta tem a sua chave e cada chave tem seu segredo. A relação dos vírus com as células que eles podem infectar funciona mais ou menos desta forma, cada tipo de célula tem um segredo diferente na sua porta de entrada e cada vírus tem uma chave cujo segredo pode ser modificado por mutações espontâneas. Vez ou outra um vírus consegue produzir uma chave com um novo segredo que permite invadir uma célula que sirva para se reproduzir, então ele invade e se multiplica.
O Coronavírus tem várias divisões e subdivisões, então eu fiz alguns gráficos para facilitar o entendimento certo. A família Coronaviridae tem pouco mais de 40 espécies, sendo a maioria responsável por afetar espécies específicas como acontece com alguns morcegos e outros mamíferos, incluindo baleias como a Beluga. A família tem duas subfamílias, são elas Orthocoronavirinae e Letovirinae. A subfamília Orthocoronavirinae é dividida em quatro gêneros, representados pelas quatro primeiras letras do alfabeto grego; a subfamília Letovirinae tem apenas um gênero que também é designado pelo alfabeto grego, como podemos ver abaixo.
Vamos começar pela subfamília Letovirinae que, como podemos verificar logo acima, conta com apenas um exemplar, o letovírus 1 que afeta anfíbios do gênero Microhyla.
Mas os Coronavírus que causam maiores problemas estão na subfamília Orthocoronavirinae.
Quanto ao primeiro gênero desta subfamília, o Alphacoronavirus, tem um subgênero que vem confundindo algumas pessoas, o subgênero Tegacovirus, ao qual pertencem duas subespécies importantes, o Coronavírus Felino (FCoV-Feline Coronavirus) e o Coronavírus Canino (CCoV-Canine Coronavirus), que afetam gatos e cães respectivamente, para os quais existe vacina disponível no mercado já há um bom tempo. Esses vírus não afetam humanos e são bem diferentes do vírus da COVID-19.
Os únicos vírus da subfamília Alphacoronavirus que podem afetar humanos, provocando Infecções que variam de leves a moderadas, que são comuns e não trazem grandes complicações, são os Coronavírus humanos HCoV-229E (Human coronavirus 229E) e HCoV-NL63 (Human coronavirus NL63), os sintomas e a frequência com que estes vírus aparecem é tão baixa que quase não há registro da sua ação.
Agora vamos falar da subfamília Betacoronavirus, aqui também existem dois Coronavírus humanos que causam apenas Infecções que variam de leves a moderadas, que são comuns e não trazem grandes complicações, que são o HCoV-OC43 (Human coronavirus OC43) e o HCoV-HKU1 (Human coronavirus HKU1).
Mas é nesta subfamília que estão os Coronavírus mais perigosos para seres humanos, como o MERS (MERS-CoV – Middle East respiratory syndrome) que provocou um surto em 2012 no Oriente Médio, daí a origem do seu nome.
Porém o nosso medo tem recaído sobre a espécie SARSr-CoV, da qual em 2002, a subespécie SARS-CoV (Severe acute respiratory syndrome) dizimou cerca de 800 pessoas, e agora uma nova variação, a SARS-CoV-2, que causa a Doença do Coronavírus de 2019 (COVID-19 – COronaVIrus Disease 2019), que vem trazendo grandes transtornos em todo o mundo.
Chegamos então ao interesse deste artigo, que está na subfamília Gammacoronavirus, é aqui que se encontra o Coronavírus Aviário (ACoV – Avian coronavirus), um Coronavírus que provoca doença em aves, no caso a bronquite infecciosa, e ele só afeta aves, não infectando seres humanos. No caso, as aves mais afetadas são os frangos, mas afetam também perús, faisões, gansos e patos. Apesar de algumas unidades de saúde incluírem os pombos como possíveis portadores de Coronavírus, as literaturas especializadas em pombos não relatam casos de Coronavírus em pombos, como o livro “Clínica de Aves” de Thomas N. Tully Jr., Gerry M. Dorrestein e Alan K. Jones. Também um estudo muito interessante do suíço, Dr. Daniel Haag-Wackernagel, que fez um levantamento no banco de dados médico PubMed de 1941 a 2003 em publicações nas línguas italiano, francês, alemão, holandês e inglês, para o qual não encontrou nenhum registro de infecção de Coronavírus em populações de pombos. Portanto gente Pombo não pega nem o Coronavírus Aviário, muito menos os outros.
Nesta subfamília também está incluído o SW1, um Coronavírus que infecta baleias Beluga.
Por fim a última subfamília, a Deltacoronavirus, que também tem alguns Coronavírus que infectam aves, mas são todos espécie específicos, ou seja, cada um deles afeta um animal específico.
REFERÊNCIAS:
HAAG-WACKERNAGEL, Daniel; MOCH, H. Health hazards posed by feral pigeons. Journal of Infection, v.48, n.4, p.307-313, 2004. Disponível em: https://www.academia.edu/8377007/Health_hazards_posed_by_feral_pigeons
Acesso em 27 jan. 2020.
NARANJO, Luis Fabian Núñez. Isolamento e propagação de Astrovírus, Adenovírus, Coronavírus, Parvovírus, Rotavírus e Reovírus de aves comerciais com problemas entéricos em ovos embrionados. 2012. 146 f. Disssertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo. São Paulo 2011. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10133/tde-08102012-161644/en.php Acesso em 21 nov. 2017.
TULLY JR, Thomas N.; DORRESTEIN, Gerry M.; JONES, Alan K. Clínica de aves. 2ª ed. rev. Tradução Ana Helena Pagotto et al. Rio de Janeiro. Elsevier. 2010.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil
Deixe uma resposta