Eu já havia começado a falar sobre o Campeonato Estadual no artigo anterior, onde falei também sobre a primeira vez que pude participar integralmente de um Campeonato de Velocidade, e de uma forma fantástica para um principiante. Era também minha primeira participação em provas mais distantes, já que no ano anterior uma tempestade nos fez perder tantos pombos, no início do Campeonato, que a Associação não pôde participar do Meio Fundo no Estadual.
Pois bem, eu já havia começado mal no Estadual deixando de marcar um designado logo na primeira prova de Vitória, 280 Km, como relatei no artigo anterior, mesmo marcando sete pombos entre os doze primeiros, mas mantive firme a convicção de que eu era ainda um iniciante e precisava aprender muito ainda, principalmente como designar bem os pombos.
Na segunda prova, que foi de Linhares – ES, 380 Km, com o tempo ainda bom, embarquei trinta e um pombos, três a mais que na prova anterior, e consegui classificar treze dos quatorze pombos que registrei no relógio, marcando os três designados que precisava em 3º, 7º e 13º respectivamente, sendo dez pombos entre os dezesseis primeiros. E o melhor, a fêmea alumínio 33555/94, que já ganhara a anilha de ouro na Velocidade, foi meu primeiro pombo a chegar nesta prova também e com o 3º e o 4º lugar, acumulados nas duas provas, estava bem na frente pela briga da anilha de ouro no Meio Fundo, a segunda na lista era outra pombinha minha, a escama 09476/92 que havia marcado o 7º lugar nesta prova e o 3º na prova anterior.
Chegou o dia da terceira prova, de São Mateus, 590 Km, que fechava o campeonato de Meio Fundo e justamente no dia do meu aniversário, um sábado, 5 de agosto de 1995, a expectativa na véspera, era grande, fomos até Campos para embarcar nossos pombos, conforme planejado, mas havia um ar de preocupação, pois uma frente fria poderia chegar a qualquer momento trazendo chuva e vento contra.
Quando retornamos de madrugada o céu ainda estava estrelado, mas logo pela manhã ao acordarmos, nos deparamos com uma chuva, não muito intensa, mas contínua, que castigou o dia inteiro, como o tempo no local da solta ainda estava bom, houve autorização por parte das diretorias dos clubes envolvidos para realizar a solta, até porque havia a previsão de que a chuva seria passageira, o que acabou não acontecendo devido à zona de convergência que se formou pelo choque da massa de ar frio vinda do sul com a massa de ar quente e úmida vinda do norte.
Por conta disso nenhum pombo foi recebido no mesmo dia, fomos dormir todos, com o pombal vazio. Isso os que conseguiram dormir, pois seu Eraldo, que passava a noite que os pombos estavam embarcados em claro, com os “pombos no mato” então, era mais uma noite de sofrimento.
E eu então… que presente de aniversário! Recebi os amigos em casa à noite com cara de velório. Estava com certeza preocupado, mas ainda esperançoso, afinal, ninguém havia recebido um pombo sequer e o Campeonato permanecia em aberto.
Passou a noite e a chuva não deu uma trégua sequer, pelo contrário, ficou mais forte ainda, me lembro que pela manhã conversando com os outros sócios, pelo telefone, alguém falou que foi bom ter chovido a noite toda, pois assim as nuvens estariam descarregadas pela manhã, e realmente por volta das nove e meia da manhã ela começou a estiar, quando o sol até ameaçou aparecer, foi o suficiente para que os primeiros pombos começassem a chegar.
Recebi uma ligação avisando que dois pombos já teriam chegado, pouco antes das dez horas, a expectativa aumentou, e finalmente, por vota de 10:20 h recebi o primeiro pombo, uma fêmea, azul 09329/92, logo depois outra fêmea, vermelha 33551/94, em seguida mais uma, alumínio 33554/94, nenhuma designada.
A fêmea vermelha 33551/94, ficou de fora das provas de Vitória e Linhares por uma única marcação, ou seja, se a porcentagem permitisse entrar mais um pombo, a vez seria dela. Guardem bem o número destas duas pombinhas de 94, elas ainda vão fazer história junto com outros pombos nos próximos anos. Note também que a 33551/94 aparece nos registros como macho, só percebi que era uma fêmea quase dois anos depois, quando colocou o primeiro ovo.
Bem, até o final do dia recebi apenas oito dos vinte e dois pombos que embarquei e nos dias seguintes apenas mais cinco retornaram, totalizando uma perda de nove pombos, inclusive a fêmea alumínio, 33555/94 que havia sido anilha de ouro na Velocidade. Porém não marquei nenhum pombo sequer nesta prova, por conta de terem ficado com a velocidade abaixo dos 500 metros por minuto. Na hora da apuração da prova, mesmo descontando o horário morto de pernoite, o horário limite para a minha distância ficou em 10 horas, 15 minutos e 11 segundos, se meus pombos tivessem chegado cinco minutos antes, teriam entrado na marcação.
O único consolo foi que apesar de ter sumido e marcado apenas em duas provas, a fêmea alumínio, 33555/94 foi anilha de ouro também no Meio Fundo, pois nenhum pombo conseguiu repetir marcações nas três provas de Meio Fundo, já que apenas três ou quatro pombos de outros criadores ficaram acima dos 500 m/m na prova de São Mateus.
Nunca mais tive notícias desta fêmea, ela era meio irmã, por parte de pai, da fêmea alumínio 33554/94 que mencionei acima. O fato mais curioso a respeito dela foi a forma como ela nasceu, a sua mãe era aquela fêmea escama 16635/89 que encontrei na torre de refrigeração e deu início ao meu plantel. Como não consegui encontrar o seu dono acabei colocando ela também na reprodução, mas na hora da postura o primeiro ovo atravessou, eu fiz de tudo que sabia para ajudá-la, vapor na cloaca, azeite morno, nada deu resultado, e ela morreu sem colocar o ovo. Em um instinto súbito quando já ia embalar seu corpo para descartar, resolvi abri-la para verificar o estado do ovo. Ele estava perfeito, não perdi tempo e coloquei em uma ama para chocar, no final do dia seguinte já era possível ver pela veia que riscava o ovo que o borracho estava vivo, e assim ela acabou vindo à vida. E pensar que eu quase joguei no lixo duas anilhas de ouro do primeiro Campeonato que pude participar.
A partir daqui então meu objetivo principal passou a ser não só participar do Fundo para adquirir experiência, assim como já havia feito com as provas de velocidade em 1994, mas porque também era necessário a participação de um mínimo de cinco sócios e vinte e cinco pombos, se eu ficasse de fora, o resultado da Associação não seria válido para o Estadual, pois restariam apenas quatro sócios. Além de que, a desmotivação havia tomado conta da Associação pela baixa pontuação conseguida no Meio Fundo para o Estadual e também a perda elevada de pombos em São Mateus, pois considerando que quanto maior o número de pombos participantes em cada prova, aumentava a pontuação final, a Associação competir com poucos pombos no fundo, ficava quase impossível se classificar bem no Estadual.
Mas continuando… para a primeira prova de fundo que foi em Pedro Canário – ES, com 500 Km ainda mandei 7 dos oito pombos que chegaram de São Mateus, graças ao tempo estar muito bom para a realização da prova, e acabei marcando 3º, 4º e 10º lugares respectivamente, todos designados, isso me deu a garantia de que todo trabalho desenvolvido, no treinamento e alimentação dos pombos, estava sendo bem feito até aqui, por isso para as duas últimas provas de Teixeira de Freitas – BA com 590 Km e Itapebi – BA com 780 Km eu retirei os três pombos de ano com anilha de 94, primeiro por serem jovens e segundo para que pudesse dispor de uma equipe experiente para o ano seguinte, além do mais, havia previsão de chuva para as duas provas, que acabaram se confirmando, o que provocou pernoite de um dia na prova de Teixeira de Freitas e de dois dias na prova de Itabebi, da qual a única pombinha minha que retornou foi a escama 09476/92.
A última prova pelo cronograma deveria ser Camacâ – BA com 820 Km, porém por causa do mau tempo o local foi transferido para Itapebi.
Apesar das perdas consideráveis de pombos neste ano o aprendizado foi fundamental para garantir as boas colocações nos dois anos seguintes, mas isso já é tema para um outro artigo, então até lá.
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