Finalmente depois de ter passado o sufoco do ano anterior, o ano de 1995 prometia muito, afinal, eu já estava inscrito como sócio e conseguira as anilhas oficiais do ano de 1994 para anilhar meus filhotes. Como o campeonato anterior terminou antes do tempo, pude me dedicar exclusivamente à criação, os reprodutores eram poucos ainda, mas me concentrei em tirar filhotes apenas no período ideal entre junho e julho. A única coisa que estava faltando ainda era o relógio, para não ter que depender de marcar os pombos pelo telefone novamente. A oportunidade veio por uma infelicidade, a desistência de um dos criadores que acabou com todos os seus pombos. A maioria foi vendido, porém, não comprei nenhum, pois o meu foco foi o “relógio”, novamente quase todas as minhas economias foram viabilizadas para compra-lo, apesar disso, ele me presenteou doze filhotes ainda na idade de adução que coloquei para voar naquele ano, e mais um casal de reprodutores. Somando com mais dois filhotes que comprara e os dezenove que consegui reproduzir, foram trinta e três pombos do ano, mais os três que sobraram do ano anterior e mais oito que consegui aduzir, daqueles ainda do ano passado, totalizando quarenta e quatro pombos para participar do campeonato.
A expectativa era grande para o início das provas, principalmente porque estava treinando intensivamente a entrada dos pombos para a hora da chegada, detalhe que havia percebido na participação do ano anterior, e estava curioso para saber se tudo que estava fazendo daria certo, pois considerando que em provas de curta distância os pombos chegam muito juntos, era essencial que eles entrassem rápido para garantir boas colocações.
Depois de realizados os treinos oficiais, chegou a hora da verdade, naquela altura eu tinha 40 pombos para competir, pois quatro haviam se perdido durante os treinos, porém, devido às dificuldades na apuração, que naquela época eram todas feitas à mão, pois não havia um programa de apuração disponível ainda, a diretoria decidiu limitar em 25 o número de pombos por participante, então 15 foram enviados apenas para treino. Assim os pombos foram “emborrachados” e “encestados”, ao todo 156 participaram oficialmente da prova.
Ah, uma coisa que não comentei no artigo anterior é que a modalidade do campeonato incluía a escolha de cinco pombos pelo criador para compor a sua equipe de “designados” destes apenas as marcações dos três primeiros iriam compor a pontuação na prova, por equipe, mas haviam mais dois critérios, o percentual de marcação era de 20%, sendo assim existiam apenas 32 marcações válidas e a velocidade mínima era de 500 m/m, pombos que fizessem velocidade inferior, mesmo que estivessem entre os 20% também não teriam seus pontos computados.
Pois bem, de madrugada o motorista saiu em direção à Travessão – RJ, distante 100 Km, o dia estava bonito, sem nuvens, vento a favor, trazendo a confiança de que a prova seria bem rápida. Os pombos foram soltos em um posto de gasolina no Km 47 da BR 101 às 8h. Meia hora depois os pombos para treino.
Passavam poucos minutos das 9h quando chegaram oito pombos, entre eles quatro designados, que entraram rapidamente, entrei no pombal e antes que terminasse de bater todos eles no relógio, chegaram mais dois, sendo um, outro designado, saí para coloca-los para dentro e voltei para marca-los, dois minutos depois chegaram mais nove, desses registrei apenas quatro, pois o relógio que comprara, era um STB de 14 marcações e não havia como registrar mais pombos, faltavam agora seis pombos. Às 9:28 chegaram mais três e mais um às 9:32, os outros dois chegaram juntos com 14 dos 15 pombos do treino às 9:36, ficando apenas uma pombinha do treino que chegou três minutos depois e assim todos eles estavam em casa novamente.
Não dá para descrever a emoção de ver todos os pombos chegarem assim tão juntos, quase não dava para ver todos chegando com o entra e sai do pombal, coloca-los para dentro, bater no relógio, foi uma sensação indescritível.
Agora era aguardar a apuração para saber como tinha sido o desempenho, já que do meu pombal eu não conseguia ver como tinha sido a chegada dos outros columbófilos, pois minha casa ficava encravada em um vale, cercada de pequenos morros, não dava para ver nada de lá até meus próprios pombos só os via já fazendo a curva para descer.
Fizemos a apuração no mesmo dia à tarde e depois da abertura dos relógios, quando fomos preencher as boletas de apuração, o coração já estava quase saindo pela boca, o horário de chegada dos meus primeiros pombos estava na briga pelas primeiras colocações, ainda não dava para saber ao certo, pois apesar de haver marcações com horários na frente, eles tinham que me dar distância pois meu pombal era um dos que ficavam mais longe e ainda faltava fazer a correção dos atrasos dos relógios.
A surpresa foi maior ainda quando no resultado final, tinha conseguido as quatro primeiras colocações, e mais ainda, havia marcado oito pombos entre os doze primeiros, uma façanha para um principiante, eu não conseguia me conter de tanta felicidade, afinal tudo parecia estar funcionando perfeitamente. Só peço desculpas aos colegas, por ter apenas os resultados dos meus pombos, pois não tenho as fichas com os resultados completos.
A primeira prova do ano sempre traz esperança para todos, no meu caso ela acendeu a esperança de brigar pelo título, eu tinha a convicção comigo mesmo de que poderia brigar por alguma coisa, mas não esperava tanto logo na primeira prova, as três primeiras marcações me deram o primeiro lugar por equipe no Campeonato de Velocidade com 296,153 pontos e ainda havia empurrado a marcação dos concorrentes para baixo.
Porém na segunda prova apareceu o primeiro obstáculo, foram dois finais de semana consecutivos com chuva, onde nos vimos obrigados a cancelar a prova, por duas vezes, afinal, já tínhamos na bagagem a experiência desastrosa do ano anterior, e ninguém queria se arriscar a perder muitos pombos novamente, principalmente no início do campeonato, e ficar mais um ano sem participar do Campeonato Estadual, que começaria a partir do Meio Fundo, o pior é que para o próximo final de semana havia previsão de chuva também.
Então tomamos uma decisão radical, como o tempo estaria bom no meio da semana, decidimos realizar a prova em uma quarta-feira, dia 12 de julho de 1995, pois no outro final de semana dia 22 de julho, começaria o Campeonato Estadual, onde estariam competindo a capital, Rio de Janeiro, com duas Associações e mais três municípios, Campos dos Goitacazes, Nova Friburgo e Macaé, com a solta de Vitória – ES.
Nossa segunda solta seria de Marataízes – ES com 178 Km e a terceira de Guarapari – ES com 238 Km, como só havia tempo para realizarmos uma solta, optamos por soltar em Iconha com 217 Km, até por que já estávamos com trauma de Guarapari no ano anterior, quando o campeonato acabou para nós e não queríamos que acontecesse de novo, então usaríamos o resultado da prova de Vitória – ES que abriria o Meio Fundo, como a terceira prova, para fazermos o fechamento do campeonato de Velocidade, ou seja, uma prova valendo por duas.
Embora não tivesse havido perdas na prova anterior o número total de pombos enviados foi menor, apenas 123, eu mesmo mandei dois a menos e nem mesmo me lembro porquê, então haveriam 25 marcações válidas na prova, sete a menos que a anterior.
Bem, os pombos foram soltos às 7:45 h, e às 8:15 h os do treino. Antes das 11:00 h eles chegaram, sete pombos, e novamente quatro designados entre eles. Chegaram bem novamente, mas relutavam para entrar, perdi muito tempo tentando coloca-los para dentro. Não conseguia entender… alguma coisa estava errada… porque eles demoraram tanto a entrar? A resposta não demorou a vir, logo percebi que uma coisa havia de diferente, em todos os treinos anteriores eu nunca havia pego os pombos na mão logo assim que entravam, isso só aconteceu na chegada da primeira prova, para que eu retirasse as senhas que estavam em suas patas para inserir no relógio, mas que animaizinhos sensíveis, eles perceberam que iria acontecer de novo na segunda prova e por isso refugaram, na semana seguinte, treinei todos os dias pegá-los assim que entravam, a melhora na resposta da entrada nas provas seguintes demonstraram que aquele realmente era o motivo.
Eu sabia que aquele atraso na entrada teria me prejudicado, ainda bem que não foi tão grave como havia pensado, afinal a primeira prova havia fechado com menos de quatro minutos, e eu havia perdido pelo menos dois minutos tentando colocar os pombos para dentro do pombal.
Na classificação meus três designados classificaram em 12º, 14º e 15º respectivamente e assim consegui manter a liderança no Campeonato, melhor ainda, as fêmeas que tinham marcado em 1º e 2º lugar na prova anterior foram as primeiras a serem registradas nesta prova também, e por isso lideravam a disputa pela anilha de ouro entre as fêmeas, além de que, dos sete pombos registrados seis repetiram resultados e também tinham chance de brigar por anilhas. Imagina só! Eu que pensava brigar por conseguir alguns pontinhos, já estava na briga pelo primeiro lugar, e ainda estava na disputa pela anilha de ouro.
Observe que estão faltando no quadro acima os dez primeiros colocados, pois o quadro serve para mostrar apenas a posição dos meus pombos, certo. Apesar desta não ter sido uma prova difícil perdi alguns pombos importantes, entre eles o designado que havia marcado o 3º lugar na prova anterior.
A expectativa agora era com o Campeonato Estadual, que começava a contar a partir do Meio Fundo com a prova de Vitória – ES, 280 Km, naquela época esta prova ainda contava como Meio Fundo, hoje ela faz parte do Campeonato de Velocidade, pois foi estabelecido o limite mínimo de 300 Km para Meio Fundo.
O Campeonato Estadual era composto pelas seguintes provas:
A Federação Estadual dispunha de um caminhão para promover estas provas, ele saía de Friburgo, com os pombos dos seus sócios, e se dirigia até Campos dos Goitacazes, para fazer o embarque daquela associação, então nós saímos de Macaé até Campos para passar os pombos para o caminhão também, apenas a capital fazia suas soltas em caminhão próprio. Embarquei na ocasião 28 pombos.
O dia para a solta apresentava características muito semelhantes com a da primeira prova de Velocidade, quando os pombos fizeram uma velocidade muito alta, todo mundo já falava que os pombos iriam adiantar, mesmo assim, os pombos chegaram tão rápido que pegou muita gente de “calças-curtas”. O Emilson ganhou a prova porque limpava o viveiro quando os pombos chegaram e o bebedouro estava no chão do lado de fora, ele só ouviu os pombos pousando no telhado e quando sua pombinha designada desceu para beber água ele conseguiu pegá-la ali mesmo do lado de fora para marcá-la. Já o Dimas estava na sala, em casa, lendo o jornal de domingo e quando se deu conta os pombos já estavam dentro do pombal, até hoje a gente ri muito do que aconteceu naquele dia. Quanto a mim, estava no pombal, mas só vi que os pombos chegaram porque o meu vizinho gritou avisando, tinha pombo para todo lado, mas pousaram apenas 6 juntos, e só dois designados, eles ainda refugaram um pouco na hora da entrada, mas não demoraram como na prova anterior. Logo depois chegou mais um, e dois minutos depois outro, mas nenhum outro designado, até que finalmente chegaram dois juntinhos, agora era esperar e torcer que pelo menos o terceiro designado entrasse na marcação, porém no fechamento da folha ele acabou ficando de fora e as oito marcações não foram suficientes para sustentar o primeiro lugar no Campeonato de Velocidade, pois outros dois criadores conseguiram marcar os nove designados nas três provas e também já começava o Meio Fundo negando um designado.
Neste ano eu ainda não havia percebido, mas já começava a conhecer a prova mais difícil do Campeonato, Vitória – ES! Para conquista-la o Columbófilo precisa saber designar muito bem seus pombos, alguns anos depois eu descobri que apesar de ser uma prova de Velocidade, suas peculiaridades cobram pombos com características de Fundo.
Apesar disso, eu tinha motivos para comemorar, afinal consegui marcar minha pombinha na frente novamente e ela foi agraciada com a anilha de ouro no Campeonato de Velocidade, ela era uma fêmea alumínio, filha da fêmea escama 16635/89, da qual me referi no primeiro artigo desta série “O Começo”, cujo dono eu não consegui fazer contato, com um macho vermelho que ninguém queria, o mais curioso foi a forma como ela nasceu, mas isso eu conto depois. Em um outro artigo eu volto também para falar do fechamento do Campeonato Estadual, ok.
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Brasil
Deixe uma resposta