Existe um consenso entre columbófilos de que pombos de raça, criados em cativeiro são mais saudáveis que pombos soltos em ambiente urbano, mas isso não é verdade, há um grave engano aqui que precisa ser esclarecido. As várias raças de pombos alcançadas até aqui, são fruto de uma seleção genética que busca agrupar em um determinado grupo de indivíduos, características que os tornam únicos, pela concentração de alguns genes específicos através da consanguinidade.
Pombos comuns nas cidades apresentam maior variabilidade genética, o que contribui para uma maior adaptação da imunidade, garantindo maior resistência a doenças contagiosas. Esta variabilidade genética é alcançada, pelo cruzamento contínuo entre pombos de várias raças, que escaparam de seus criadores para a cidade, como demonstrou Darwin em seu livro “The Variation of Animals and Plants under Domestication”, onde ele afirma que os pombos da cidade são a expressão mais próxima dos seus ancestrais selvagens, os pombos das rochas, pois conforme experimentos realizados por ele, os pombos das cidades são fruto do cruzamento entre várias raças, aleatoriamente, produzindo o que ele chamou de “Princípio de reversão a caracteres ancestrais” (DARWIN, 1868).
A ciência, através de vários estudos, já comprovou que animais provenientes de cruzamentos consanguíneos planejados, sofrem redução das defesas naturais do sistema imunológico, que os tornam mais vulneráveis às doenças contagiosas, como já demonstrava Lima, (1976) em seu estudo sobre a malária aviária em Pombos-correio (Columba livia fauna domestica) e pombos de vida livre (Columba livia fauna urbana), quando revelou que um percentual maior de Pombos-correio, 85%, se apresentavam contaminados com o Haemoproteus columbae, contra 52% dos pombos comuns de vida livre na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Além disso, Lima, (1976) chama a atenção que o regime de semi-confinamento, a que são submetidos os Pombos-correio, aumentam o contato entre si, permitindo maior disseminação de doenças contagiosas, do que os pombos de vida livre.
Pombos de vida livre na cidade, não se afastam muito dos seus locais de nidificação, alimentação ou dormitório e tendem a não se misturarem com bandos de outras áreas (FRANTZ, 2012), estas características reduzem a possibilidade de disseminação de doenças contagiosas, diferente do que acontece com os Pombos-correio.
Contudo, os formatos dos campeonatos a que são submetidos os Pombos-correio de competição, onde aves de vários criadores são confinados, juntamente, em gaiolas com espaço reduzido, para o transporte até os locais de solta, quando alguns regurgitam nas caixas o que se alimentaram, para outros comerem e ainda tem as bicadas pelas disputas por espaço, provocando feridas que contribuem ainda mais para disseminação de doenças contagiosas.
Para completar ainda são soltos a quilômetros de distância de suas casas, podendo adentrar em outros pombais, ou qualquer outro criadouro de animais, como galinheiros e/ou granjas, nos percursos de volta, permitindo, tanto que contraiam doenças por onde passem, como também disseminar outras doenças, caso estejam contaminados.
Como se não bastasse tudo isso, todas as condições a que são submetidos nas campanhas, conforme citadas acima, podem provocar um stress que contribui ainda mais para a diminuição da sua imunidade, tornando os Pombos-correio alvos fáceis para doenças oportunistas.
Então, SIM, os pombos de rua são mais saudáveis que os Pombos-correio em cativeiro, não fosse assim, não haveria necessidade da utilização de tantos medicamentos como são nescessários, para manter a saúde de nossos pombos, e notem que falo de remédios, não de vacinas, ou suplementos.
Pombos livres, em ambiente urbano, tem sua expectativa de vida reduzida para 3 a 5 anos, por que, além de outros fatores, não são medicados quando adoecem, como acontece com pombos em cativeiro, cuja expectativa de vida aumenta para cerca de 15 anos, justamente por que tem um cuidador atento, capaz de identificar quaisquer condições adversas de saúde e interferir antes que o pior aconteça (CUNHA, 2010) e (PESSANHA JR, 2006).
Podemos concluir então que: a maior expectativa de vida dos pombos em cativeiro, em relação aos pombos livres em ambiente urbano, provém do fato de que o ambiente urbano não é o habitat ideal para pombos, mas que se sujeitam a ele por não haver habitats naturais para pombos próximo às cidades que eles habitam e que, em cotrapartida os pombais são habitats mais adequados para a subsistência de uma colônia de pombos.
REFERÊNCIAS:
CUNHA, B. M. D. F. M. D. D. MEDICINA E CIRURGIA DE ANIMAIS EXÓTICOS – A MEDICINA DESPORTIVA EM COLUMBOFILIA. Dissertação (mestrado): Universidade do Porto, 2010.
DARWIN, C. The Variation of Animals and Plants under Domestication. VIII. ed. London: [s.n.], v. 1, 1868. 411 p.
FRANTZ, Adrien et al. Contrasting levels of heavy metals in the feathers of urban pigeons from close habitats suggest limited movements at a restricted scale. Environmental Pollution – ELSEVIER, 2012. Disponível em: <https://www.academia.edu/17665783/Contrasting_levels_of_heavy_metals_in_the_feathers_of_urban_pigeons_from_close_habitats_suggest_limited_movements_at_a_restricted_scale?email_work_card=view-paper> Acesso em 08 dez 2022.
LIMA, D. F. Prevalência do Haemoproteus Columbae Kruse, 1890, (Protozoa, Haemoproteidae) em Porto Alegre, ANAIS DA FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE, p. 31-33, 1976.
PESSANHA JR, W. Avaliação da circulação dos vírus influenza e da doença de Newcastle em pombos (Columba livia domestica) de vida livre na cidade do Rio de Janeiro, Tese (Doutorado) – Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2006.
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